Como Tocar ao Vivo Sem Tensão

Por Emiliano Gomide
GuitarCoast

B.B. King mostrando a Buddy Guy como tocar relaxado
.
Este artigo é a resposta para uma pergunta que um aluno me enviou sobre tensão ao tocar ao vivo. Como essa pode ser uma dificuldade de mais guitarristas, achei interessante compartilhar a pergunta e a  resposta com todo mundo.

Aqui vai a pergunta do Paulo:

Como sugestão de dicas, eu gostaria de saber como tirar a tensão ao tocar ao vivo, não sei quanto aos demais alunos mas isso atrapalha muito a técnica, é aquela velha história:  Em casa e nos ensaios com a banda tudo soa redondinho... os solos fluem normalmente, o som fica bacana, a base limpa... mas, às vezes, ao vivo a tensão e o excesso de concentração e perfeccionismo nos fazem cometer erros até nas músicas mais fáceis. Os leigos não percebem e aplaudem, mas a gente sabe que não saiu como deveria. Sei que não tem mágica pra isso, só tocando dia após dia mesmo pra melhorar a segurança além de treinar muito, claro.

E aqui vai a minha resposta:

Preciso dizer que você fez uma pergunta inédita. Ninguém nunca tinha me perguntado isso, mas assim que li as questões que você explicou, realmente percebi o quanto este assunto faz diferença para nós guitarristas. Afinal, treinar é uma coisa, mas mostrar os resultados do treinamento é algo completamente diferente.
Baseado no que você falou, fiz algumas reflexões. Espero que a resposta possa ajudar.

A tensão que sentimos ao tocar ao vivo pode ter algumas causas diferentes.

- Altura da guitarra. Não sei se é o seu caso, mas se você usa a guitarra pendurada muito embaixo ao vivo, isso pode gerar um desconforto e tensão. Pode ser bom colocar a guitarra um pouco mais alta.

- Como você está treinando. Outro ponto é verificar se você está treinando da mesma forma que você toca ao vivo. Por exemplo, se ao vivo, você toca em pé, recomendo treinar em pé em casa também. Pode parecer um detalhe pequeno, mas essas duas posições diferentes trabalham músculos diferentes (dos braços, mãos e costas). E a tensão é algo que ocorre quando o músculo não está acostumado com certo esforço.

- Zona de Conforto. Agora precisamos também encarar um fato que é duro, mas que é verdade. Conseguimos tocar muito bem dentro da nossa zona de conforto de velocidade, mas quando chegamos perto de seu limite, vamos ficando mais tensionados. Por exemplo, você já está tocando a 140 BPM durante seus treinos, mas a sua zona de conforto ainda gira em torno de 120 BPM. Ela é sempre bem menor do que sua velocidade máxima.

Para ampliar sua zona de conforto para 140 BPM, por exemplo, você precisará aumentar sua velocidade máxima para 160 BPM, digamos. Outra forma de ampliar sua zona de conforto para 140 BPM seria treinar vários dias seguidos nessa mesma velocidade. Por isso, quando vemos um guitarrista tocando rápido, como o Slash, e pensamos "ah, ele não é tão rápido assim", mas na verdade, ele consegue tocar bem mais rápido durante seus treinos.

- Nervosismo. Agora, falando sobre ficar nervoso quando tocamos ao vivo por causa das pessoas olhando, esse é um assunto muito interessante. Tenho muita experiência em falar em público e, hoje em dia, adoro a adrenalina que isso proporciona. Mas só cheguei nesse ponto depois de ter falado em público umas 50 vezes.

Quando eu era mais novo, era muito tímido e minha memória para fazer alguma apresentação era péssima. O que eu fiz foi começar a sempre preparar tudo o que eu ia falar nos mínimos detalhes. Depois, para ficar mais natural, passei a apenas criar roteiros simples com tópicos.

A grande lição que extrai depois de muita experiência é que o nervosismo nunca desaparece. Mas você precisa usar ele a seu favor. Sim! Neste momento você fica muito mais atento e com mais energia. A sua mente fica pronta para fazer um trabalho excepcional. Mas você não pode querer ficar segurando o nervosismo. Tem que deixar ele lá. E acredite, as pessoas te olhando podem te dar muita inspiração para fazer algo inovador, e com muito mais feeling. Afinal, você está sentindo algo muito forte! Você tem que botar esse sentimento na guitarra!

- O Som. Tem outro fator que, na minha opinião, faz você tocar melhor ao vivo do que em casa: o som. Geralmente, os amplificadores que usamos ao vivo são melhores e podemos colocá-los muito mais altos do que em casa. Isso tem uma influência absurda no feeling e na qualidade do que você toca.

Sim, tocamos melhor quando o som é melhor! As notas musicais ficam mais "gordas", e passam, a preencher muito melhor o espaço. O efeito mental-espiritual-psicológico de escutar ou tocar música ao vivo é mil vezes maior que ouvir música em casa, pois afinal, não sentimos a música só com ouvido, mas com o corpo inteiro. Ou seja, aproveite e curte o som, isso te dará prazer de tocar e o deixará mais relaxado.

- Aceite o erro. Mesmo que você faça de tudo para ficar menos tenso, sempre terão erros (que, como você falou, geralmente o público não percebe). Mas você precisa aceitar esse erro, conviver com ele, deixar a música fluir. Como não é possível corrigir um erro ao vivo, deixe-o passar. Siga o fluxo do solo. O importante é não perder o ritmo.

Aceitar naturalmente o erro é importante para não ficar mais nervoso ainda, o que faria você errar novamente. Além disso, quando estiver improvisando, erros são bem-vindos, pois frases inesperadas podem surgir, gerando boas surpresas.

 - O paradoxo de aceitar os erros... Se você conseguir fazer essas coisas que falei acima, seu estado mental irá mudar, ficando mais relaxado, e por consequência acabará errando menos. Por incrível que pareça, quando aceitamos que não conseguimos acertar sempre, acabamos acertando mais.



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