Eleito um dos melhores
guitarristas do Brasil pelo site Whiplash, Douglas Jen está a mil por hora após
um mês intenso em turnê com o rockstar Marty Friedman.
“Foi a minha décima tour, e estar com um ícone da
guitarra na estrada me trouxe muita experiência, tanto de palco, como
artisticamente.” Douglas Jen (2015)
Também conhecido como Insane Guitar, Douglas está colhendo os
frutos do seu trabalho como guitarrista da banda de Power/Prog Metal SupreMa. O
lançamento do disco Traumatic Scenes
rendeu avaliações positivas, não só de especialistas brasileiros, mas da
crítica internacional.
Em meio a tantos projetos,
ainda sobrou um tempo para conceder uma entrevista imperdível para o site
Guitar Coast, sobre a banda SupreMa e os detalhes da turnê com Marty Friedman.
Guitar Coast - Olá Douglas, é um prazer tê-lo conosco! Os
últimos meses foram muito intensos para você, com uma agenda sempre cheia,
principalmente durante a tour com Marty Friedman. Como foi a tour? Tem alguma
história que gostaria de contar?
Douglas Jen: Uma
saudação aos internautas do site! Sim, a agenda foi extremamente cheia! Em 2014
estive bem ausente da cena, mas é porque estava trabalhando nesta tour e em
algumas coisas nos bastidores do SupreMa, e 2015 começou a mil por hora! Foram
20 eventos em 26 dias com o Marty Friedman, mais de 15.000 km rodados, e toquei
em 11 oportunidades, foi realmente fantástico! Foi a minha décima tour, e estar
com um ícone da guitarra na estrada me trouxe muita experiência, tanto de
palco, como artisticamente. O Marty é um cara super bem humorado, uma figura e foram
inúmeras histórias, talvez uma das mais engraçadas foi em Araraquara. O pessoal
da produção local nos levou a um ótimo restaurante japonês, e eu nem sou muito
ligado em comida oriental. Todos estavam lá se esbaldando de comer e eu pedi um
prato mais próximo de comida ocidental, com carnes grelhadas, e pedi garfo e faca.
O Marty viu e riu bastante. Eu tentei pegar o Hashi pra comer e não conseguia,
ele então me deu um workshop particular de como usar Hashi (risos), foi algo
inusitado ele me ensinando dedo por dedo como se usava aquela coisa!!
Guitar Coast
- Poderia comentar sobre as guitarras que você tem usado ultimamente? Pretende
fazer alguma mudança em breve?
Douglas Jen: Eu tenho usado duas guitarras Ledur, uma de 6 e outra de 7 cordas. Basicamente,
são guitarras com a mesma construção, inteiriça com ponte fixa, pois eu toco
muito forte e com cordas .011 e preciso de um instrumento bem estável na
afinação, e com bastante sustain. A única diferença das guitarras é o set de
captadores, na de 6 cordas, EMG ativo 81 e 89, e na 7 cordas, Seymour Duncan
Distortion e 59’. Ano passado eu estava com um belo set de guitarras e acabei
me desfazendo para simplificar um pouco para as viagens, mas pretendo adicionar
novamente uma 6 cordas com Floyd Rose, pois estou trabalhando no projeto solo e
vou precisar de uma versatilidade para estas composições.
Guitar Coast - Recentemente,
você fechou um contrato de endorsement com a Peavey, que é reconhecida
internacionalmente como uma das grandes marcas de amplificadores. O que essa
parceria significa para você? E o que você mais gosta em seu amplificador atual?
Douglas Jen: Isso foi algo
realmente marcante. A Peavey é o sonho de consumo de qualquer guitarrista de
rock ou metal, pelos seus famosos amps valvulados. Na verdade, eles tem linhas
mais vintage e atendem muito bem a galera do blues e do classic, e os
transistorizados também dão um belo timbre! Mas o que impressiona mesmo é o
cabeçote novo, o 6505 que estou usando atualmente, é um amp para estúdio, para
tocar ao vivo, para tudo o que você precisar! Já fiz gravações com ele. Ele é
realmente fantástico, um amp que você pluga a guitarra direto, sem precisar de
qualquer pedal empurrando, e você já tem o timbre pronto. Levei ele na tour com
o Marty e inclusive a Peavey também emprestou amp para o Marty tocar. Foi
nítida a diferença de timbre que tivemos nas cidades com outros amps, e quando
o Peavey chegou para salvar as noites!
Guitar Coast - O álbum
“Traumatic Scenes” do SupreMa provocou uma admiração impressionante não só nos
fãs da banda, mas também na mídia internacional, recebendo notas altas de sites
de metal no Brasil e Europa, a maioria acima de 8,5/10 ou 9/10. Além das
excelentes músicas, a que você atribui este alto nível de qualidade da
produção? Quais foram os principais acertos nesta gravação?
Douglas Jen: O “Traumatic
Scenes” foi um álbum feito com muita dedicação e detalhismo. Ficamos mais de um
ano em pré-produção, fazendo e refazendo música até chegar ao ponto que
queríamos, e no estúdio não foi diferente. Tivemos umas 7 ou 8 provas de
mixagem até chegar onde queríamos, levamos nossas referências sonoras e
chegamos próximo de onde queríamos, porém com a cara mais orgânica. Eu creio
que o acerto foi no planejamento, escolher um produtor bom, estúdio bom,
equipamentos bons, e não fazer nada com pressa “só porque tem que lançar logo”.
Claro que tivemos erros, vários!! Mas que já corrigimos na questão do processo,
e também musicalmente falando, já vimos muitas coisas que funcionam ou não,
tanto para o CD, quanto para o ao vivo. O novo trabalho vai vir ainda mais
denso e pesado, e com toda a experiência que o “Traumatic Scenes” nos trouxe.
Guitar Coast - O
“Traumatic Scenes” é um álbum baseado no filme “O Invisível”. Quais foram os
impactos dessa abordagem?
Douglas Jen: Foi bem positiva,
pois criamos um ambiente diferenciado nos shows do SupreMa! O filme deu
inspiração para o conceito do álbum, as letras, as artes e também ao cenário da
banda. Digamos que tudo é interligado, e os fãs atentos conseguem perceber a
interação de cada detalhe do CD com o show! A imprensa também foi bem sensível
ao perceber a riqueza de detalhes do disco, e os comentários foram muito bons,
ficamos bem felizes que não foi um álbum que passou batido e sim marcou em
definitivo a carreira da banda.
Guitar Coast - Quais foram
os momentos mais marcantes na sua história com o SupreMa?
Douglas Jen: Tenho dezenas para
contar, tanto bons quanto ruins!! Muitos já falei durante entrevistas e nem saberia
listar tudo, ficaria algumas horas contando, são 11 anos de coisas acontecendo,
é uma vida! Tem momentos históricos, como os shows com as bandas internacionais,
Primal Fear, Blaze Bayley, Evergrey. Ótimos fests e eventos, como o River Rock
(Indaial-SC), Palco do Rock (Salvador-BA), Ruiari (Limeira-SP), o lançamento no
Via Marquês em São Paulo junto com o Shadowside. Também várias decepções, como
cancelamentos do Araraquara Rock do ano passado, o Agreste in Rock e um fest
nos EUA que acabou caindo. Mas isso não pode nos abalar. Os fãs estão sempre ao
nosso lado. A galera que conhece o SupreMa sabe do esforço desde o início da
carreira e sabe que a cada pedra no caminho, podemos cair, mas voltamos e damos
dois passos à frente!
Guitar Coast - Com o
crescimento do SupreMa, tanto em projeção nacional quanto internacional, você
tem tido grandes responsabilidades. Quais têm sido seus maiores desafios nessa
fase atual da banda?
Douglas Jen: Com o crescimento,
vem a cobrança e vem a responsabilidade cada vez maior. É mais tempo a se
dedicar, é mais dinheiro a se gastar, são mais pessoas esperando coisas de
você, e esta pressão tem que ser administrada com a experiência que você vai
tendo durante a carreira. Eu vejo que o mais difícil de uma banda séria, é ter
músicos totalmente comprometidos no projeto e capazes de segurar a bronca, seja
no dia bom ou no dia ruim. É ter uma equipe que esteja com você a qualquer
hora, é ter pessoas que acreditem no projeto e pessoas que te ajudem a ir à
frente. Sofremos muito com alguns destes fatores e só o tempo para reconstruir
e indicar pessoas certas para cada posto. Agora, em 2015, queremos voltar com
toda garra, apresentando sangue novo na banda, som novo, e começar os
preparativos para o disco. Vai vir uma enxurrada de coisa boa em breve!
Guitar Coast - Os
primeiros 10 anos de uma banda são um verdadeiro teste de resiliência. E você
sempre demonstrou enorme resistência a inúmeras dificuldades com uma determinação
clara. Qual é o seu conselho para as bandas que estão no início desse caminho?
Douglas Jen: O conselho é:
calma, é só o começo... Muita gente desiste na primeira pedra e se fosse assim
eu teria parado há 10 anos atrás. Não foram poucas as dificuldades, mas nunca
deixei que elas me abatessem. Dias sem dormir, dias na estrada e longe de casa,
perigos na estrada e durante as viagens, muito dinheiro gasto, muito calote que
recebemos, carro vendido e empréstimos em banco para fazer a coisa andar. Coisas
que muita gente teria medo e de fato não fazem, e depois não sabem porque não
saem do lugar. Claro que tudo tem que ter um planejamento e a hora certa de se
fazer, mas temos que ter o foco no objetivo e buscá-lo a qualquer custo!
Guitar Coast - Você é o principal
compositor da banda e costuma já apresentar novas músicas quase prontas para a
banda. Como surgem as novas ideias e como você trabalha a criatividade para
criar novas composições? Você possui algum hábito/ritual/processo de
composição?
Douglas Jen: O fato de ser o
principal compositor da banda não quer dizer que não haja espaço para os outros
músicos. O que acaba acontecendo é que eu apresento um número maior de
composições e isso influi no final. Eu não gosto de apresentar apenas um riff,
ou um refrão e dizer “Ah, vamos ver o que dá”. Eu geralmente levo a música
praticamente pronta, toda estruturada e, às vezes, até com solos, pois no
SupreMa, temos pouco tempo para passar juntos em estúdio, ensaiando e compondo.
A galera tem bastante compromisso, então não adianta juntar para fazer jams e
ver se sai alguma coisa, desta forma gastaríamos nosso pouco tempo juntos para
produzir muito pouco. Creio que cada banda tem que se conhecer, conhecer seus
limites e como você pode extrair o melhor do que você tem em mãos. Então, o
melhor processo para nós é este, trabalhar em casa, enviar coisas por internet
e quando nos juntamos no estúdio já temos bem definido o que vamos tocar. A
minha parte criativa varia muito. Não tenho um método que se repete todas as
vezes, um dia me vem um refrão na cabeça, outro dia vem um riff, e no meio das
aulas sempre me surge alguma idéia de solo! Cada vez que surge uma idéia eu
registro. Tenho um baita banco de dados com partes de músicas e sempre estou
revisando eles. Às vezes, consigo juntar partes e quando vai ver, saiu uma
música, ou mesmo ouço algum trecho e aquilo me inspira a fazer a continuação.
Temos que ser flexíveis e registrar tudo, do maravilhoso ao ruim, e depois de
um tempo você vai separando o que serve ou não. A “Nightmare” é um exemplo
disso. Uma música minha de 2002, que era uma destas ideias ruins, eu nunca
conseguia fazê-la virar uma música de verdade, e ficou um bom tempo no meu
banco de coisas “a não se utilizar” (risos). Anos depois, mexi nela, fiz um
refrão novo, vieram as partes de solo diferentes, e quando fomos ver, acabou
sendo o single do “Traumatic Scenes”. A música nos rendeu semanas na MTV,
milhares de acessos no Youtube, e o abriu as portas para o contrato com uma
gravadora européia!
Guitar Coast - Agradecemos
sua presença aqui no Guitar Coast e, para encerrar, pedimos que deixe uma
mensagem para seus fãs e os guitarristas leitores do blog!
Douglas Jen: Eu que agradeço
pelo espaço. Muito bom falar sobre música e sobre guitarra, sempre! Vou deixar
aqui meus contatos e avisar o pessoal que logo mais vou lançar uma série de
live sessions que filmei em estúdio. Estava devendo este material em vídeo para
os fãs, e tudo poderá ser acompanhado no meu site www.douglasjen.com e também no site do
SupreMa www.supremametal.com. Nos
vemos na estrada, em breve.